segunda-feira, 12 de julho de 2021

Wolf & Rabbit

 “O que você deve segurar
Quando está escuro e a gelar
É o coração aqui mencionado
O qual é firme e ousado”


   O fato de que Chapeuzinho Vermelho ser um dos grandes clássicos da literatura ocidental é incontestável, e sua influência em qualquer forma de arte é evidente: seja na literatura, meio pelo qual foi eternizada em primeiro lugar, e readaptada inúmeras vezes, para atender às concepções de aceitável para o público infantil; em produções audiovisuais, como vemos com o, no mínimo, interessante “Deu a louca na Chapeuzinho!”, por exemplo, ou, no videogame, inclusive, podemos ver tal influência em jogos já trazidos, anteriormente, pela equipe da Zero Corpse, tais quais The Path e O Lado Negro da Chapeuzinho Vermelho, postagens de autoria de Eyree e Mei, respectivamente.

       Com isso, trago a vocês um exemplo encantador de releitura do clássico em questão: o adorável e, levemente, assustador Wolf & Rabbit, desenvolvido pelo Sealtail Studio e lançado em 4 de abril de 2018.

Sinopse


        Carrol, um menino lobo, encontra-se em uma colina, faminto e ferido, por conta de seus constantes fugas, o que o leva a procurar por comida. Em sua busca, depara-se com Marcia, uma garota coelho, que logo percebe seu machucado e o convida a ir para sua casa, na qual vive com sua avó, uma grande médica, disposta a ajudá-lo, tratando de seus ferimentos e saciando seu apetite, sem qualquer retribuição. Somente com o objetivo de se alimentar em mente, Carrol aceita a proposta. Ao adentrarem as proximidades da residência, Carrol passa a ficar cada vez mais relutante em seguir Marcia, mas, por fim, a acompanha na volta a sua casa.

Personagens



Carrol, o menino lobo:

Um garoto, aparentemente, ousado e indiferente.







Marcia, a garota coelho:

Uma menina, aparentemente, gentil e bem-comportada.







História


    Este jogo segue uma linha narrativa bem característica de RPG Makers de terror/suspense: com um protagonista sob nosso controle, neste caso, Carrol, devemos explorar, atenciosamente, os cômodos de certo estabelecimento, neste caso, a casa da médica, procurando por artefatos, pistas, códigos ou qualquer outro tipo de artifício requerido para que possamos vasculhar mais e mais cantos deste local, até que consigamos, finalmente, escapar da ameaça que nos persegue, enclausurada conosco no ambiente hostil que ocupamos durante a jogatina. 

  O que faz com que joguemos jogos tão estruturalmente semelhantes repetidas vezes são suas personagens cativantes, tramas instigantes, trilhas sonoras e ambientações imersivas. Se Wolf & Rabbit está recebendo uma postagem a seu respeito, em primeiro lugar, é porque eu considero que suas competências técnicas são, parcialmente, boas o bastante para serem classificadas de forma similar aos exemplos supracitados.

 Enfim, mesmo que simples e direta, sem grandes desenvolvimentos de personagens, construção de universo ou algo do gênero, a história de Wolf & Rabbit, que gira em torno de desvendar os mistérios que envolvem o vasto recinto da médica, uma devastadora guerra e as intenções da delicada garota coelho, consegue nos manter presos o suficiente para o finalizarmos em uma única jogatina (claro que sua curta duração de, aproximadamente, duas horas colabora para isto), enquanto que o carisma das personagens, que se deve a distintividade de seus designs, fortes personalidades e curiosas origens, torna a experiência prazerosa.

    Devido à objetividade da narrativa, o jogo acaba por abordar vários elementos interessantes e os não trabalha tão bem quanto eu gostaria, pois, certamente, eles agregariam e muito para a experiência deste como um todo, mas, dentro do que se propõe, a história consegue ser, até mesmo, tocante, pela forma sensível como trata temas de relacionamentos familiares e perdas daqueles os quais amamos.

Visuais



    Levando-se em conta os componentes visuais como um todo, ou seja, os gráficos e CGs (imagens estáticas que preenchem a tela por completo), não diria que Wolf & Rabbit é um título de destaque, mas também não o nivelaria com jogos que nem possuem qualquer comprometimento com a estética, como aqueles que usufruem, totalmente, dos assets já concedidos pela própria engine, os RTPs.

    Suas CGs, por exemplo, apresentam um nível de capricho e quantidade significativos, algo que não vemos tão frequentemente dentro do cenário de jogos RPG Maker. Através de um estilo bem fofo como fundação, os artistas são capazes de evocar uma gama de sensações ao jogador: um aperto no coração, por conta de nostálgicas fotografias e desenhos das personagens, de tempos mais simples; susto e até medo, quando imagens escuras, nas quais apenas os contornos das personagens são ilustrados por linhas brancas, são exibidas, repentinamente; e intensa comoção, quando podemos vislumbrar momentos impactantes e/ou alegres.

    Agora, em relação aos gráficos in-game, o mesmo não pode ser dito. Sim, os sprites das personagens, jogáveis e não-jogáveis, são muito bons, com um nível de detalhamento que, raramente, vejo em qualquer produção RPG Maker, mas não há muito mais o que se salientar além disso. O game não é feio, de forma alguma, mas nada na maioria de seus cenários é muito autêntico, sendo constituídos, em grande parte, por assets RTP. Porém, alguns de seus ambientes são belos, e se distinguem bastante do restante da casa para que a ambientação do lugar, em geral, não seja desinteressante.


Um exemplo de destaque dos gráficos in-game
de Wolf & Rabbit.

Trilha Sonora e Jogabilidade



    Como acredito que, diferentemente dos aspectos anteriores, não se há muitas nuances a serem realçadas em relação a estes a seguir, resolvi dedicar uma seção a dois aspectos sem relação alguma.

    A trilha sonora, apesar de ser composta por um repertório mais que satisfatório, não dispõe de nenhum arranjo original e, além disso, prefere utilizar do silêncio como recurso para acentuar a tensão dos acontecimentos e o sentimento de inseguridade que alguns espaços já nos causariam, mas que, de uma perspectiva musical, tornam suas trilhas ainda mais esquecíveis. 

    Contudo, uma de suas faixas, a única com vocais, que chamou minha atenção foi uma versão de “Who killed Cock Robin?”, uma cantiga inglesa, a qual teve seu significado atrelado à morte de várias figuras importantes ou mitológicas anglo-saxãs e nórdicos, inclusive a Robin Hood, pois demonstra a comoção que o falecimento de uma personalidade importante pode causar àqueles que a admiram, fazendo com que cada animal se mobilize, de alguma maneira, para que haja um sepultamento digno para esta. Tais temas soturnos conversam muito bem com alguns dos assuntos abordados pela história do jogo, ademais, é uma referência histórica muito pitoresca, o que faz dessa canção, para mim, a adição mais curiosa à trilha sonora de Wolf & Rabbit. Inclusive, há uma adaptação de tom mais cômico produzida pelo Walt Disney Productions, a qual faz parte da coletânea de curtas Silly Symphonies, quem quiser assistir o curta (infelizmente só disponível em inglês, sem legendas), pode clicar aqui

Morte e Sepultamento do Pobre Cock Robin,
por Henry Louis Stephens, 1865.

    Mecanicamente, não senti nada de inovador ao longo da minha jogatina. Para solucionar os quebra-cabeças impostos em nosso caminho, temos que equipar instrumentos que achamos ao investigarmos a residência da médica no lugar de selecionarmos itens de uso único para os resolvermos, o que não é tão comum, pois os jogos RPG Maker, majoritariamente, costumam ser englobados pela segunda categoria, mas, também, não é algo inusitado. Os quebra-cabeças, por si só, são, extremamente, descomplicados, não exigindo que o jogador quebra a cabeça movendo blocos de forma cirúrgico ou decodificando símbolos, números e enigmas confusos, o que pode ser um incômodo a alguns e uma benção a outros.

    Agora, para quem jogou de forma legal, comprando pela Steam (não vou julgar ninguém que não tenho o feito, quer dizer, quem já não usou da pirataria para jogar esse ou aquele jogo, por não ter como comprá-lo, né?), o modo como as conquistas funcionam, lhe gratificando ao realizar os objetivos em geral de maneiras específicas contribuem para uma experiência mais divertida na hora de jogar.

Conclusão



    Não vejo Wolf & Rabbit como uma experiência imperdível, e o fato dele ser pago (custando R$ 4,50 na Steam, única plataforma na qual é disponível) pode desestimular alguns de jogá-lo, mas, devido a sua acessibilidade em duração, que leva em torno de duas horas, como supracitado, e dificuldade, que pode ser descrita como básica, acredito que este seja um bom jogo para se entreter em um tedioso fim de semana ou tardinha desocupada e que surpreende em relação à sua arte encantadora e história envolvente.




-St⛤ri⛤

8 comentários:

  1. Maravilhoso e inspirado no meu conto de fadas favorito!!!!

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    1. Adoro Chapeuzinho Vermelho também, podia escrever um post inteiro sobre suas origens, versões antigas...

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  2. Cara, queria tanto que esse jogo tivesse uma tradução em português! Mas de boa, vamos lá dicionário de inglês!

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    1. Olha pelo lado bom, ao jogar jogos em inglês com o auxílio de um dicionário, tu está aprimorando o teu conhecimento de inglês. Pode ser que, no futuro, tu acabe nem precisando mais!

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  3. Eu realmente amo como o jogo parece fofo e inocente no começo e vai se tornando obscuro com o tempo, achei realmente interessante a história e adorei a personagem da vovó. O jogo é divertido embora não inove em nada, porém gostei do final verdadeiro, me pegou de surpresa, mas confesso que se não fosse por ter assistido um gameplay eu teria feito só até o final em que ele escapa, o ponto negativo do jogo é justamente o fato de que ele não te dá dica nenhuma de como conseguir os finais ou resolver alguns puzzles então eu fiquei presa em alguns kkkkk e os erros de tradução para o inglês. Mas tirando isso, eu me diverti bastante jogando, adorei a recomendação.

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    1. Fico feliz que você tenha gostado do jogo!
      Muitos jogos RPG Maker tem essa característica de se tornarem mais e mais obscuros ao longo da jogatina mesmo, mas em Wolf & Rabbit, isso é ainda mais evidente, concordo contigo.
      O caminho que a narrativa tomou no final verdadeiro foi realmente surpreendente, inclusive, gostaria que o jogo tivesse o explorado ainda mais.
      Apesar de o jogo ser fácil até, não posso negar que também não tive a menor ideia de como completar o final verdadeiro até ver uma gameplay, uahsuah. E me esqueci de mencionar o fato da tradução para inglês não ser uma das melhores no post. Tem alguns momentos em que tua atenção é completamente tirada dos eventos em curso, porque as falas das personagens são muito estranhas.
      Obrigada pelo comentário <3

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  4. Respostas
    1. Nunca tinha parado para pensar, mas tem essa questão de lobo e coelha nos dois, aushuahs. Mas as semelhanças acabam por aí msm, esse jogo é muito mais fofinho que Beastars, mesmo sendo de terror

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